sábado, 3 de setembro de 2011

Os 100 anos de Giap

Os 100 anos do grande estrategista militar e revolucionário vietnamita, general Giap, que derrotou o colonialismo francês e o imperialismo norte-americano, no texto publicado no ODiario.info e no Nicarágua Socialista, transcrito aqui em parte:



“Os imperialistas são péssimos alunos, demos a eles lições durante vários anos na nossa escola, não aprenderam nada e foram repetentes durante tantos anos que tivemos que correr definitivamente com eles”
                                                                                              General Vo N’Guyen Giap
                                                                                                         Argel, 1975


O mítico general Vo Nguyen Giap completou cem anos de idade. Quase tão venerado como Ho Chi Minh, estrategista das grandes batalhas contra o colonialismo francês e a agressão estadunidense, Giap é considerado um gênio da logística e um político mobilizador de massas.

Este lendário general vietnamita nasceu na aldeia de Una Xa, província de Quang Binh, a 25 de agosto de 1911. Filho de um camponês que embora sem terra sabia ler e escrever e lutou durante toda a sua vida contra o regime colonialista imposto ao seu país.

Ainda muito jovem, em 1926, começou a luta pela libertação do Vietnã no instituto em que estudava. Aderiu ao Menh Dang do Tan Viet e, dois anos mais tarde, ao Quoc hoc, organizações clandestinas que faziam agitação contra a ocupação estrangeira.

Em 1930 foi detido e condenado a três anos de prisão, mas foi libertado alguns meses mais tarde. Em 1933 entrou para a universidade de Hanói, de onde foi expulso dois anos mais tarde por realizar agitação revolucionária.

Na universidade conheceu Dang Xuan Khu, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Truong Chinh, o principal ideólogo do comunismo vietnamita. Foi ele quem recrutou Giap para o Partido Comunista da Indochina.

Em 1937 conseguiu concluir os seus estudos de Direito na universidade e começou a dar aulas de História num instituto em Hanói, embora o que fizesse na realidade fosse organizar os professores e os estudantes para a luta revolucionária.

Em 1939 publica, juntamente com Truong Chinh, o seu primeiro livro, intitulado “A questão camponesa”, no qual analisam o papel que os assalariados rurais devem desempenhar no processo revolucionário, enquanto aliados do proletariado vietnamita.

No ano anterior casara-se com uma tailandesa, Dang Thi Quang, militante comunista igualmente, e quando no ano seguinte o Partido Comunista da Indochina é ilegalizado Giap foge para a China, onde conheceu Ho Chi Minh e onde estudou as teses de Mao Tsé-Tung sobre a guerra popular prolongada e a guerra de guerrilha, que viria a aplicar magistralmente no seu próprio país.

Mas a polícia francesa prendera a sua mulher e sua cunhada para as utilizar como reféns para pressionar Giap e o levar a entregar-se. A repressão foi feroz: sua cunhada foi guilhotinada e sua mulher foi condenada à prisão perpétua, vindo a morrer na prisão ao fim de três anos em consequência das brutais torturas a que foi sujeita. Os carrascos assassinaram também o seu filho recém-nascido, o seu pai, duas irmãs e outros familiares.

Em maio de 1941, na conferência de Chingsi (China), funda, juntamente com Ho Chi Minh, o Dong Minh (Liga Vietnamita para a Independência) mais conhecido como Vietminh, para congregar as forças anti-japonesas numa única frente de libertação nacional.

Nesse mesmo ano Giap desloca-se para as montanhas do interior do Vietnã a fim de dar início à guerra de guerrilha. Aí estabelece uma aliança com Chu Van Tan, dirigente do Tho, grupo guerrilheiro de uma minoria nacional do noroeste do Vietnã. Giap inicia a construção do Tuyen Truyen Giai Phong Quan, um exército capaz de expulsar o ocupante francês e de sustentar o programa do Vietminh.

Inicia uma campanha de dois anos de propaganda armada e de recrutamento, convertendo os camponeses em guerrilheiros combinando o treino militar com a formação política comunista. Em meados de 1945 dispunha já de cerca de 10.000 homens sob o seu comando e pode passar à ofensiva contra os japoneses que ocupavam todo o sudeste asiático.

Em agosto de 1945, juntamente com Ho Chi Minh, Giap dirigiu as suas forças para Hanói, e em setembro desse ano Ho Chi Minh pôde proclamar a independência do Vietnã, com Giap como comandante do exército revolucionário.

Na guerra contra o colonialismo francês que se seguiu Giap demonstrou a superioridade da guerra popular sobre as forças imperialistas alcançando, em 7 de maio de 1954, uma espetacular vitória na decisiva batalha de Dien Bien Phu, um vale situado a cerca de 300 quilômetros a oeste de Hanói onde as forças ocupantes francesas se tinham entrincheirado, confiantes na proteção das montanhas circundantes e na sua capacidade de derrotar as forças revolucionárias que tentassem descer. Não imaginavam que as forças de Giap fossem capazes de fazer subir peças de artilharia por encostas quase inacessíveis.

Após quase seis meses de cerco, dos 15.094 mercenários franceses concentrados em Dien Bien Phu apenas 73 conseguiram escapar, enquanto 5.000 foram mortos e 10.000 capturados. Giap e o general Denhg lançaram o assalto final que conduziu à expulsão definitiva dos franceses da Indochina. O exército de Giap e Denhg sofreu a baixa de 25.000 combatentes.

Giap e Denhg derrotaram os imperialistas graças a uma acumulação logística extraordinária e a uma utilização eficaz e bem protegida da artilharia. Os 60 caças-bombardeiros B-29 norte-americanos enviados em apoio ao efetivo francês falharam seu objetivo, o que levou os imperialistas a admitirem, segundo o criminoso plano do almirante norte-americano Radford e do general francês Navarre, o lançamento de bombas nucleares contra as forças revolucionárias.

A campanha de Dien Bien Phu foi a primeira grande vitória de um povo colonial e feudal, com uma economia agrícola primitiva, contra um experiente exército imperialista apoiado por uma indústria bélica pujante e moderna. Os mais conhecidos generais franceses (Leclerc, De Lattre de Tasigny, Juin, Ely, Sulan, Naverre) fracassaram, um após outro, perante tropas constituídas por camponeses pobres, mas inteiramente decididas a lutar pelo seu país e pelo socialismo. Os governos de Paris foram também caindo, à medida que os seus generais eram derrotados naqueles arrozais distantes, deixando bem evidente a fragilidade da IV República.

O Vietnã ficou dividido e Giap foi nomeado ministro da defesa do novo governo do Vietnã do Norte que, ao mesmo tempo que prosseguia a guerra popular de libertação, se esforçava por construir uma nova sociedade, socialista.

Como comandante do novo exército popular, Giap dirigiu a luta na guerra do Vietnã contra os novos invasores norte-americanos no sul do país, que de novo teve início como uma guerra de guerrilha. Os primeiros soldados norte-americanos a morrer no Vietnã resultaram do ataque a uma base militar, Bien Hoa, a noroeste de Saigon, realizado pelo Vietcong em 8 de julho de 1961.

Quatro presidentes norte-americanos sucessivos mantiveram a agressão contra o Vietnã, deixando o rasto sangrento de 57.690 americanos abatidos, enquanto do lado vietnamita caíram 600.000 combatentes. Mas em 1973 os EUA foram finalmente obrigados a abandonar o país. O país foi reunificado dois anos mais tarde, depois de um tanque do exército revolucionário romper a vala de proteção da embaixada norte-americana enquanto os últimos imperialistas a abandonavam precipitadamente, fugindo de helicóptero do telhado do edifício.

Giap foi a partir de então ministro da defesa do Vietnã e membro do Politburo do Partido Comunista do Vietnã, cargo que manteve até 1982. Depois de abandonar estes cargos dirigiu a Comissão de Ciência e Tecnologia e, em julho de 1992, foi-lhe concedida a mais alta condecoração do novo Vietnã socialista, a ordem da estrela de ouro.

O general Giap não foi apenas um mestre na arte de dirigir a guerra revolucionária, escreveu também sobre ela, publicando em 1961 a sua famosa obra “Guerra popular, exército popular”, manual da guerra de guerrilha baseado na sua própria experiência. Nela estabelece os três fundamentos básicos de que necessita um exército popular para alcançar a vitória na luta contra o imperialismo: direção, organização e estratégia. A direção do Partido Comunista, uma férrea disciplina militar e uma linha política adequada às condições econômicas, sociais e políticas do país.

Definiu a guerra popular como “uma guerra de combate para o povo e pelo povo, enquanto a guerra de guerrilha é apenas um método de combate. A guerra popular corresponde a uma concepção mais geral. É uma concepção de síntese. É uma guerra simultaneamente militar, econômica e política”. A guerra popular não é realizada apenas pelo exército, por mais popular que este seja, mas sim por todo o povo, que deve participar e ajudar na luta, que necessariamente será prolongada.

Como bom guerrilheiro, Giap sabia que o sucesso, quando existe uma desproporção de forças muito grande, se baseia na iniciativa, na audácia e na surpresa, o que exige que o exército revolucionário esteja continuamente em movimento. Destacou-se como um gênio da logística, capaz de movimentar continuamente importantes contingentes militares, segundo os princípios da guerra de deslocamentos. Fê-lo contra os colonialistas franceses em 1951, infiltrando um exército inteiro através das linhas inimigas no delta do rio Mekong, e repetiu-o antecipando a ofensiva de Tet em 1968 contra os estadunidenses, quando posicionou milhares de homens e toneladas de aprovisionamentos para um ataque simultâneo contra 35 centros estratégicos do sul.

A batalha de la Drang (19 de outubro a 27 de novembro de 1965) foi uma das mais importantes para ambas as forças no decurso da guerra de libertação do Vietnã. No seu decurso o general imperialista Westmoreland estava convicto de que a mobilidade aérea e a potência de fogo em grande escala seriam a resposta adequada à estratégia de Giap. Mas este colocou os seus efetivos tão próximos das linhas norte-americanas que os B-52 largavam as bombas em cima das suas próprias fileiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário