segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Compañero Allende! Presente! Ahora y siempre!

Texto do jornalista Luiz Manfredini, publicado em seu blog:


Mais uma vez quero lembrar um 11 de setembro que a mídia hegemonizada pelos interesses norte-americanos quase nunca menciona: o 11 de setembro de 1973, quando a direita chilena, sob o comando do sinistro General Augusto Pinochet e ostensivo apoio do governo dos Estados Unidos, derrubou o governo constitucional da Unidade Popular, presidido por Salvador Allende.

Nos anos seguintes, a ditadura pinochetista assassinaria mais de três mil chilenos por razões políticas e mandaria outros dez mil aos cárceres, à tortura e ao exílio.

Ao reverenciar a figura maiúscula de Salvador Allende, penso em quantos milhares de latino-americanos foram mortos, presos, torturados e exilados nas ditaduras por aqui implantadas nos anos 60 e 70, todas – rigorosamente todas – com apoio ostensivo do governo dos Estados Unidos (inclusive treinando torturadores).

Penso ainda nos 140 civis mortos em Hiroshina, no massacre atômico perpetrado pelos Estados Unidos em seis de agosto de 1945, e no de Nagasaki, três dias depois, que matou 80 mil civis. Penso nos quase três milhões de vietnamitas que os militares norte-americanos chacinaram (inclusive mediante armas químicas e bacteriológicas) durante aquela guerra tenebrosa dos anos 60 e 70. Penso nos 100 mil civis iraquianos que pereceram em sete anos da guerra promovida pelos Estados Unidos.

Penso nessas tragédias colossais e me pergunto: será que isso não passa pela cabeça da sociedade norte-americana que, neste 11 de setembro, só pensa no ataque ao World Trade Center? Um ataque terrível, é verdade, condenável sob todos os aspectos, que deve ser lembrado. Mas o que o governo dos Estados Unidos faz, com apoio de expressiva parcela da sociedade, é apresentar o ataque como a grande tragédia da História, ocultando suas responsabilidades sobre outras tragédias, bem maiores, bem mais trágicas.

Mas os norte-americanos – ao menos sua maioria – foram adestrados para um auto-referenciamento enfermiço, cujo paroxismo, nos dias atuais, beira o autismo, que tem o resto do mundo apenas como o “resto do mundo”, que eles pouco conhecem e, no fundo, desprezam, porque hostil ao destino messiânico do qual se consideram investidos.

Eu aqui reverencio as vítimas do Estado imperialista norte-americano, na figura superlativa de Salvador Allende, imolado no Palácio de La Moneda em 11 de setembro de 1973. E o faço repetindo texto que publiquei neste blog no ano passado. Dele nada tenho a acrescentar, nem a subtrair. (veja em http://www.blogmanfredini.blogspot.com/)

Leia a seguir a derradeira mensagem de Salvador Allende aos chilenos, na manhã de 11 de setembro de 1973, quando o palácio de La Moneda já estava sob o bombardeio dos fascistas.


Compatriotas:

Esta será seguramente a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A aviação bombardeou as antenas da Radio Portales e Radio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e elas serão o castigo moral para os que traíram o juramento feito: soldados de Chile, comandantes-em-chefe titulares e mais o almirante Merino, que se autodesignou, e o senhor Mendoza, esse general rasteiro, que ontem me manifestara sua fidelidade e lealdade ao governo.

Frente a estes fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar!

Colocado neste transe histórico, pagarei com minha vida a lealdade do povo, e digo-lhes que tenho certeza que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser apagada definitivamente. Eles têm a força, mas não se detêm processos sociais pelo crime e pela força. A História é nossa, ela é feita pelos povos. Me dirijo ao homem chileno, operário, camponês, intelectual, àqueles que serão perseguidos porque em nosso país o fascismo já se faz presente há algum tempo em atentados terroristas, sabotagens de estradas de ferro e pontes, oleodutos e gasodutos.

Frente ao silêncio dos que tinham a obrigação ... [interrupção momentânea da transmissão da Radio Magallanes] - ... a que estavam submetidos. A História os julgará.

Seguramente, Radio Magallanes será calada e o metal tranquilo da minha voz não chegará mais a vocês... Não importa ... Não importa, vocês seguirão me ouvindo, estarei sempre junto de vocês, pelo menos minha lembrança será de um homem digno, leal à lealdade dos trabalhadores.

O povo deve se defender, mas não se sacrificar. Não deve deixar-se arrasar nem crivar de balas, mas tampouco pode se deixar humilhar.

Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Este momento cinzento e amargo, onde a traição pretende se impor, será superado. Sigam sabendo que muito mais cedo do que tarde de novo se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem [livre] digno que quer construir uma sociedade melhor...

Viva Chile, viva o povo, vivam os trabalhadores... Estas são minhas últimas palavras ... Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão, tenho certeza de que pelo menos será uma lição moral que castigará a felonia, a covardia e a traição....

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