Do Vermelho:
A morte do ex-preso político Francisco Monteiro, conhecido por “Chico Passeata”, na madrugada desta sexta-feira (12), em Fortaleza (CE), aos 63 anos, vítima de câncer, repercutiu nacionalmente. A presidente Dilma Rousseff noticiou o fato em seu blog, destacando que Chico Passeata era médico sanitarista e poeta. Atuou como militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) contra a ditadura militar, chegando inclusive a ser preso.
Em Fortaleza, a repercussão da morte foi grande. Políticos, artistas e médicos participaram do velório e falaram da perda que representa para a luta pela democracia e para a área da saúde a morte de Chico Passeata.
O deputado Chico Lopes (PCdoB-CE) lamentou a perda do histórico militante comunista no Ceará. “A luta por uma sociedade mais justa e igualitária se viu desfalcada de um de seus grandes protagonistas no Ceará”, disse o parlamentar, contemporâneo de Chico Passeata, com quem compartilhou muitos momentos de luta. “Monteiro foi, além de um exemplar militante do PCdoB, um amigo que jamais será esquecido”, afirmou.
“Ele foi um bravo militante, um lutador das causas populares durante toda a vida, inclusive enfrentando prisões e tortura. Chico Passeata nunca mudou seu modo de ver a luta por uma nova sociedade, com uma vida melhor para as pessoas”, declarou Chico Lopes, emocionado pela perda do amigo”, disse ainda Lopes, manifestando grande emoção ao lembrar as lutas vividas juntos.
O presidente do PCdoB do Ceará, Patinhas, disse que o falecimento dele é uma grande perda para a família, para os amigos e para o Partido. “A figura dele ficará gravada e será referência para que a gente continue a luta por uma saúde de mais qualidade e mais democracia no Brasil”, disse Patinhas, destacando a personalidade cordial do camarada.
Patinhas lembrou que, após a anistia, Chico trabalhou com ele na reorganização do PCdoB no Ceará, e atuou muito forte, a nível nacional, pela criação do Sistema Único de Saúde e durante todo o tempo pelo fortalecimento do SUS . “É uma tristeza muito grande para o mundo político e para os que militam na área de saúde”, finalizou.
Os colegas e admiradores destacavam, em suas falas, as qualidades do amigo: “Será sempre lembrado pelo seu espírito de luta e compromisso com as causas sociais. Lutou pelas liberdades democráticas desde a juventude até os dias atuais. Que esse exemplo de vida possa motivar as atuais e futuras gerações”, disse Eliude Oliveira.
“Na vida, a luta pela vida de todos foi o motor de sua existência. As injustiças enfrentou-as com a poesia e fez das estrofes de sua vida um ode ao compromisso com todos. Você não sai da luta. Você se multiplica em muitos de nós”, acrescentou o também amigo médico Eduardo Santana.
Aqui, minhas recordações do amigo e uma homenagem à grande figura humana:
Chico Passeata
Quando conheci Chico Passeata, creio que no auge da luta pela Anistia, tive a incrível sensação de que já o conhecia desde sempre. Parecia que não se tratava de uma apresentação, mas de um reencontro com uma figura muito singular e amiga.
Militante entusiasmado com as causas que abraçava, principalmente na área da saúde e do movimento sindical, Chico Passeata era um poeta de mão cheia. Presenciei várias vezes surgirem belos poemas de um guardanapo de papel em algum restaurante ou botequim em Maceió, em Brasília e outras cidades do nosso Brasil.
A exemplo de inúmeros companheiros, eu também encontrava o Chico Passeata nos corredores do Congresso Nacional durante a Assembléia Nacional Constituinte além dos encontros nacionais e regionais dos movimentos populares que aconteciam sistematicamente durante os anos oitenta passados.
Chico era firme com as suas idéias e carregava consigo uma imensa bagagem de generosidade humana, solidariedade para com as pessoas e muita, mas muita alegria de viver. Olhava a vida com a razão das coisas e o sentimento do poeta.
A imagem do Chico Passeata que carrego em minhas lembranças são essas, além do seu indefectível chapéu Panamá, os seus inseparáveis suspensórios e uma gostosa, estrondosa gargalhada até para com as coisas menores, mais cotidianas da vida. Um grande e forte abraço velho Chico Passeata.
Eduardo Bomfim
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