sexta-feira, 2 de abril de 2010

Armando Nogueira

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santanaoxente:




O falecimento de Armando Nogueira empobrece a crônica esportiva brasileira. Melhor dizendo, o jornalismo nacional em geral. Nesses tempos áridos em muitos dos valores fundamentais, Armando Nogueira escreveu páginas primorosas sobre uma das maiores fontes da cultura brasileira, o nosso futebol.
Onde a nossa formação mestiça brasileira se expressa com toda graça, inventividade e possibilidades. Do esporte das multidões, quando as paixões chegam ao ponto de ebulição e as razões beiram ao non sense total, Armando Nogueira extraiu crônicas maravilhosas, verdadeiros poemas.
Ele figura na galeria dos grandes do jornalismo esportivo pátrio, bem ao lado de personagens como Nelson Rodrigues que souberam tirar do esporte e em especial do futebol, literatura da boa e em estado de graça.
Compreendeu, como Nelson Rodrigues, que o futebol-arte, o futebol verdadeiro é inimigo da racionalidade em estado bruto.
Porque ele é catarse de ódios irreconciliáveis, generosidades inimagináveis, síntese de coreografias capazes de provocar inveja mortal no balé Bolshoi, nacionalismos furibundos, movimentos que desafiam a lógica e a própria lei da gravidade.
O verdadeiro futebol engendra em campo estratégias e táticas aplicadas por soldados e generais que fariam Clausewitz e Sun Tzu repensarem a própria arte da guerra.
Mas poucos e muito poucos são capazes de traduzir com clareza e brilhantismo a alma desse magnífico esporte amado por centenas e centenas de milhões de seres humanos em toda a face da terra. Armando Nogueira foi um deles.
Dizem que Armando Nogueira foi um excelente redator do jornalismo nacional. Pode ter sido. Mas ele, um botafoguense de quatro costados, tornou-se imortal foi mesmo na crônica esportiva.
Armando Nogueira foi no estilo de redação e no caráter um virtuose exemplar. Como militante político de esquerda conheci muitos jornalistas tanto a nível nacional quanto regional, e especialmente os alagoanos, vários deles com caráter idêntico ao do Armando.
E o que me chama a atenção nesse gigante profissional é justamente a sua ética e competência sempre associadas à sua cultura e elegância ao abordar os assuntos mais ásperos da realidade brasileira ou os mais espinhosos do esporte, em particular, no futebol, a sua imensa paixão. Ele nos deixou páginas iluminadas de humanismo e generosidade.

Um comentário:

  1. Parabéns Eduardo. O Armando Nogueira deixa uma cratera na inteligência do esporte brasileiro.
    Um gênio na arte de comentar e redigir textos esportivos, Armando era um poeta. Grande relato você fez.
    Parabéns pelo Blog.

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