Aí está um bom texto a respeito da disputa presidencial que se avizinha, do jornalista brasileiro (nascido na Romênia) Alon Feuerwerker. Foi publicado em seu blog - http://www.blogdoalon.com.br/ – no último dia 6 de fevereiro.
Quando na política alguém se fixa demais em questões metodológicas, é invariavelmente sintoma de dificuldades políticas. A oposição diz que Dilma cresce por estar em campanha antes da hora. Será?
Já tratei aqui da inutilidade de debater a “campanha eleitoral antecipada”. Primeiro, não há como determinar precisamente o dia em que a corrida por um cargo eletivo vai começar. Até porque esse tipo de corrida é perene. Segundo, não há uma linha demarcatória definitiva entre o “administrativo” e o “político”.
Desafio qualquer jurista a redigir um texto que deixe resolvida, para todas as situações razoáveis, a diferença entre essas duas esferas da atividade pública.
A lei pode proibir liberação de verba a certo prazo da eleição. Pode proibir uso de recursos públicos em eventos eleitorais oficiais. Pode proibir alguém de se dizer candidato “antes da hora”. Mas não há regra que consiga anular a política. É fisicamente impossível. Algo como querer chegar ao zero absoluto, a completa dormência da matéria.
Aliás, no afã de regular (somos bons nisso, agradeçamos aos portugueses), produz-se uma contradição destrutiva. Se existe certo dia antes do qual a campanha eleitoral “ainda não começou”, não há como acusar o governo, qualquer governo, de fazer proselitismo eleitoral antes do dia. Tomados alguns cuidados formais, o governante poderá trafegar à vontade. E, assim, a lei acaba produzindo resultado contrário ao desejado. Bingo.
Quando na política alguém se fixa demais em questões metodológicas, é invariavelmente sintoma de dificuldades políticas. No discurso oficial do PSDB Dilma Rousseff está em ascensão porque subiu no palanque prematuramente. Na realidade crua, a diferença entre as duas situações, do PT e da oposição, não é essa.
Dilma tem estrada livre para trafegar porque os principais problemas políticos no campo dela estão solucionados, ou a caminho de uma solução razoável. E ela tem um discurso.
Já a coligação PSDB-DEM-PPS está enrolada por não ter resolvido a equação entre São Paulo e Minas Gerais. Se resolveu, ainda não achou o jeito de contar que resolveu. O que no final das contas dá na mesma. E, pior, ainda não encontrou o discurso para enfrentar o PT. Se encontrou, ainda não parece ter chegado o dia de revelá-lo aos mortais. O que no final das contas também dá na mesma.
O governo e sua candidata têm outro trunfo: o líder. Luiz Inácio Lula da Silva é um ponto de aglutinação, um ímã. Especialmente quando todas as projeções apostam que ele chegará forte em outubro. Já a oposição tem mais de um líder. Como a política não se confunde com a matemática, aqui um é sempre maior (melhor) que dois, ou três. Quem tem mais de um líder não tem nenhum.
Parece faltar na oposição alguém que os demais tenham receio de enfrentar. Enquanto não aparece, recorre-se à cortina de fumaça.
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