sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A grande encruzilhada

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Quando a primeira-ministra da Grã-Bretanha Margaret Thatcher entronizou o neoliberalismo pelo mundo, ao lado de Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos, invocando frases como: “não existe sociedade, o que existe são os indivíduos e o Mercado”, a humanidade não tinha noção do que esperava em termos de catástrofes econômicas, sociais, militares nas décadas vindouras.
Essa hegemonia edificada a ferro e fogo, ocupou todos os espaços nas ideias, política, literatura, economia, filosofia, ciência, mídia, artes etc., materializando, acredito, a mais contundente ditadura do pensamento único já conhecida pela História dos povos em todos os tempos.

Mas enquanto essa onda colossal arrastava de roldão a quase todos na Europa, Estados Unidos e grande parte dos Países já nos anos setenta passados, o Brasil em plena fase das mobilizações pela redemocratização conseguiu adiar por algum tempo essa violência contra o País.

E não é por outra razão que a Constituição de 1988 tem sido atacada até hoje através da grande mídia oligopolizada pelo Mercado aliada aos interesses da ortodoxia neoliberal, como o sociólogo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso além de um agrupamento de acadêmicos adotados por essa mídia que evocam argumentos divulgados há mais de 30 anos por Margareth Thatcher, a Dama de Ferro inglesa.

A Constituição não teve como eixo os conceitos privatistas, neoliberais, entreguistas porque surgiu de uma correlação de forças onde a forte energia social vinda das grandes jornadas nacionais, democráticas tinha muito peso levando aos trabalhos constituintes milhões de pessoas representando trabalhadores, estudantes, mulheres, comunidades indígenas, cientistas, empresários, agricultores etc.

Certo que depois a Constituição sofreu agressões ao sabor das pressões do grande capital, do continuísmo fisiológico, mas o fato é que permanece o nó górdio da encruzilhada Histórica.

Porque ou avançamos rumo a uma sociedade cada vez mais democrática com desenvolvimento e soberania, que fortaleça a iniciativa popular, promova o espírito da solidariedade junto ao povo brasileiro, os direitos sociais das grandes maiorias, inclusivo às minorias, ou sucumbiremos aos interesses forâneos, imperiais, ao fantasma da senhora Thatcher que, aliás, continua bastante atuante.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Câmara dos Deputados homenageia os constituintes, nos 25 anos da Constituição

Publicada no Vermelho a matéria de Selma Villela:

O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, entrega a medalha Assembleia Nacional Constituinte a Eduardo Bomfim

Eduardo Bomfim, PCdoB, constituinte nota 10, recebe medalha da Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados realizou sessão solene na manhã desta quarta-feira, 27/11, no Plenário Ulysses Guimarães, para a entrega das medalhas Assembleia Nacional Constituinte aos constituintes, pela destacada atuação na promoção da cidadania e do fortalecimento das instituições democráticas.
Compuseram a mesa diretora dos trabalhos o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o senador Mauro Benevides, vice-presidente da Assembleia Nacional Constituinte.



O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, lembrou que o evento faz parte das comemorações dos 25 anos da Constituição Federal e que as medalhas foram cunhadas pela Casa da Moeda do Brasil em 1988 a pedido de Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte.
As medalhas não foram entregues à época e, desde então, ficaram guardadas em um cofre na Câmara dos Deputados. Neste ano, após a aprovação de um projeto de resolução, Alves decidiu entregá-las aos constituintes de 1988 e colaboradores que atuaram na Assembleia Nacional Constituinte. O presidente da Câmara considera que as medalhas são um reconhecimento público ao trabalho de todos que contribuíram para a construção do texto constitucional. “A democracia que temos hoje foi resultado da ação determinada de deputados e senadores constituintes”, salientou.

Eduardo Bomfim foi deputado constituinte pelo PCdoB, considerado nota 10 pelo DIAP, entidade que acompanhou os trabalhos constituintes pelo movimentos sindical e amplos setores da sociedade civil. Eduardo Bomfim, eleito pelo estado de Alagoas, foi um dos agraciados com a medalha Assembleia Nacional Constituinte.
Segundo Ulysses Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, no texto A Constituição Cidadã, que acompanhou as medalhas, “Trabalhamos muito, sem dúvida. Trabalhamos bem, esperamos. Estas medalhas serão a memória dos serviços institucionais e de confraternização humana prestados pela Constituição de 1988”.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Movimentos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

O esfacelamento da antiga União Soviética criou as condições objetivas de nova expansão capitalista a nível mundial, que avançou sobre novos territórios, ao tempo em que os Estados Unidos consagravam-se como a grande potência imperial global incontestável, além da entronização do neoliberalismo como doutrina e dogma no centro das decisões econômicas internacionais.
E sob tal espectro dessa hegemonia financeira, militar, midiática instaurou-se formalmente tanto quanto institucionalmente a chamada Governança Mundial cujo motivo foi a caducidade do conceito até então prevalente da soberania nacional, a autodeterminação dos povos, produzindo uma nova era de intensos, variados conflitos regionais de alta, média intensidades, resultantes da ação imperial e as consequentes resistências dos povos.

Em função dessa monopolização financeira e dos interesses estadunidenses formatou-se uma agenda social global cuja pauta em sua gênese é auto justificável como aspiração básica das sociedades, dos indivíduos, mas que tem sido revertida ideologicamente ao utilitarismo, à padronização do Mercado, às estratégias da política externa dos Estados Unidos.

De tal forma que em nome dessa agenda, por exemplo, agridem-se os Direitos Humanos, destrói-se a democracia, apequena-se o exercício essencial da política, avilta-se a soberania das nações, mata-se, tortura-se barbaramente, violenta-se o meio ambiente, a identidade cultural dos Países, impõem-se a moda, os costumes globais, a fragmentação do sentimento em comum de nação, lucra-se com a fome endêmica que grassa em muitas regiões como em África, numa espécie de avesso da realidade tal como um jogo de espelhos distorcidos.

Mas a China, associada à ascensão dos BRICS, que resistiu em 1989 à tentativa de destruição do que eles denominam “socialismo combinado com economia de mercado”, da sua soberania, alavancou paradoxalmente, via crescimento econômico contínuo por décadas com variações relativamente pequenas, o surgimento de uma nova era geopolítica multilateral, em um momento histórico pleno de embates contra a hegemonia imperial, a Nova Ordem mundial, na luta pela autodeterminação das nações.

Enfim nesses tempos de ocaso do neoliberalismo a História, assim como a Terra, também se move, E pur si muove, como disse Galileu Galilei.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Segunda Guerra Fria

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Em seu livro Formação do Império Americano publicado em 2009 o historiador, cientista político Moniz Bandeira narra as opiniões dos senadores Gary Hart, Democrata e Warren Rudman, Republicano, em 1999, ambos presidentes da Comissão Nacional para a Segurança/século XXI norte-americana, que os Estados Unidos continuariam como a principal força econômica, política, cultural do mundo, manteriam o domínio militar, pelo menos durante os próximos 25 anos.
Afirmaram que a “influência americana seria, ao mesmo tempo, aceita e crescentemente detestada”. De lá para cá muita água correu por debaixo da ponte, os EUA meteram-se em várias guerras, houve os atentados às torres gêmeas em Nova York etc., mas o fato é que as opiniões dos senadores mostraram-se corretas.

Agora Moniz Bandeira acaba de lançar outro livro sobre os atuais objetivos estratégicos dos Estados Unidos abordando, entre outras coisas, as recentes convulsões sociais na Eurásia, na África e no Oriente Médio.

Mas o que chama a atenção é o título: “A Segunda Guerra Fria”. Para o autor, prefaciado pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em resenha de Marco Aurélio Weissheimer, nós estamos sob o espectro de uma Segunda Guerra Fria promovida pelos Estados Unidos cujo motivo central é conter o avanço econômico da China, evitar o soerguimento da Rússia, e acredito, sustar a ascensão das outras nações que compõem os BRICS incluindo é óbvio, o Brasil.

Como exemplo cita o programa norte-americano intitulado “full spectrum dominance” (dominação de espectro total) de manter a hegemonia com assassinatos seletivos, uso de Drones, espionagem global através do sistema Prism, a força militar com 750 bases militares em 350 Países.

Além do projeto “regime change”: ações desestabilizadoras “por meio da luta não violenta, via guerra psicológica, social, econômica, política” que tem como alvo a população de determinado País, “motivando ondas de protestos, boicotes, procissões, revoltas etc.” utilizando-se, claro, da grande mídia global sob controle absoluto.

O alerta contido no livro de Moniz Bandeira, mesmo com as diferenças geopolíticas, não deve ser subestimado pelos setores patrióticos, democráticos, progressistas brasileiros visto o cenário cada vez mais pesado da realidade política, econômica internacional.

sábado, 9 de novembro de 2013

Fenômenos engarrafados

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

A agenda global continua fomentando uma parafernália de movimentos e clichês na igual proporção em que agrava-se a crise estrutural capitalista, o declínio da outrora sociedade “maravilha curativa” onde o fim da História era anunciado para gáudio dos profetas do neoliberalismo incentivados pelo capital financeiro internacional.
Sobrepondo-se à agenda verdadeira, concreta das nações, suas necessidades estratégicas, semeando fragmentações, um caleidoscópio de ativismos quase alucinógenos que parecem brotar do nada mas, na verdade, são pautados pela informação midiática de classe, hegemônica.

Que justo se transformam no alfa e o ômega de alguns grupos logo ampliados pela lente multiplicadora da televisão monopolizada por carteis no Brasil e no mundo, pelos interesses do grande capital global, também repercutidos através das redes sociais.

Enquanto nações afundam em trágica crise na Europa, Estados Unidos, continentes fervem de violência e sangue como na África esquartejada, Oriente Médio, partes da Ásia, fruto da expansão armada imperial, nada mais útil para os nababos das finanças que a promoção e o elogio à truculência protofascista, confundir as classes subalternas, impedi-las de vislumbrar os verdadeiros responsáveis pelos males que as afligem.

No momento em que alguns analistas sociais correm afogueados a explicar os “fenômenos sociais de novo tipo do século XXI” sequiosos pelos 15 minutos de fama na mídia cartelizada, os graves problemas do Brasil continuam urgentes: educação, saúde, moradia, transportes públicos, segurança etc.

Além dos imensos lucros auferidos pelos grandes bancos, as taxas de juros fantásticas, quando na verdade o País necessita de fortes investimentos em infraestrutura, ciência, tecnologia, formação de quadros profissionais, mais geração de emprego, renda, crescimento econômico a patamares bem mais elevados.

Mas o fato é que vários estão atônitos diante de certas “causas flamejantes”, algumas engarrafadas e importadas para pronto consumo, sempre associadas a uma recorrente truculência com endereço certo: a inviabilização de um projeto de desenvolvimento nacional estratégico, a superação das históricas, abissais desigualdades sociais, a derrocada das liberdades democráticas tão duramente conquistadas pelo povo brasileiro.

sábado, 2 de novembro de 2013

Mobilidade nada urbana

Meu artigo na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

As consequências de um tipo de civilização extremamente autoritária imposta à humanidade, concentradora, que atende aos interesses exclusivos do grande capital internacional continuam a desnudar os intensos sinais de fadiga, vários impasses que se estabelecem por todos os lados.
Produzindo um tipo de sociedade onde a principal característica tem sido impor a todos os Países a abdicação ou o desaparecimento das suas particularidades culturais, nacionais e regionais.

Cujo objetivo é uniformizar o consumo das mercadorias, entendidas aqui como qualquer coisa que se possa vender, desde o celular, produção artística, a informação midiática de classe, de tal forma que seja qual for o lugar em que se esteja todos tenham a mesma escala de valores ideológicos, adquirindo o mesmo tipo de produto, pensando as mesmas coisas.

Essa é a política do capital financeiro após a imposição do neoliberalismo como doutrina hegemônica no planeta, a tradução mais óbvia do que vem a ser a ditadura do pensamento único do mercado, através da agenda global impositiva, onde todos podem agir, pensar desde que não se aventurem a exercitar o sentido crítico, contestador.

Já a diferença dos regimes autoritários anteriores, inclusive no Brasil, para os tempos atuais, é que naqueles as grandes maiorias lutaram por uma via democrática, soberana, de progresso social, enquanto que na ditadura do mercado a onipresença, o patrulhamento de poder do capital global faz-se de maneira indireta mas avassaladora.

Apesar da resistência dos povos, o surgimento dos BRICS, etc., a crise estrutural capitalista e suas consequências malignas geram forte impacto nas cidades, uma tempestade de ansiedades coletivas, fomentam graves problemas de segurança pública, saúde, mobilidade urbana, educação, pondo em cheque um modelo de civilização fundado basicamente na idolatria absolutista da mercadoria que se mostra nociva a toda humanidade.

Mesmo com o recente surgimento de governos democráticos, de políticas sociais mais avançadas, ainda tem sido determinante no Brasil nos últimos 23 anos, como na maioria do planeta, a ideologia dominante do mercado, do capital financeiro, exigindo da luta política a capacidade de encontrar os caminhos da sua superação, a busca de novos modelos alternativos de civilização.