sábado, 24 de abril de 2010

Emir Sader: Os critérios da esquerda nas eleições


No Vermelho, da fonte: Blog do Emir/Carta Maior:


As referências estratégicas para uma análise de esquerda dos governos são a inserção internacional e o enfrentamento do neoliberalismo. A hegemonia imperial norte-americana e o modelo neoliberal são os dois pilares fundamentais de sustentação de um mundo violento e injusto.

A caracterização de governos latino-americanos como progressistas ou de direita, vem daí. A liquidação da Alca – Área de Livre Comércio das Américas, que os EUA e o governo FHC tentavam impor ao continente e que foi derrotada com a participação decisiva do governo Lula – e a prioridade das alianças estratégicas com países da região – mediante os processos de integração regional, do Mercosul à Alba, passando pelo Banco do Sul, pela Unasul, pelo Conselho Sulamericano de Defesa, entre outros – e das alianças com o Sul do mundo – de que os Brics são a expressão mais clara – redefiniu o lugar do Brasil no mundo, conquistou mais espaços de soberania para que definamos de forma autônoma nosso destino.

Um governo de direita – como o de FHC e os propostos por Alckmin e por Serra – centrava nossa inserção internacional na aliança subordinada com os EUA e com os países do centro do capitalismo – os que foram colonizadores e agora são imperialistas e globalizadores -, nos distanciando da América Latina e do Sul do mundo – Ásia e África. É a política de um país como o México – cuja eleição, fraudada, do presidente atual, foi saudada por Alckmin na campanha de 2002, com o caminho que desejam para o Brasil e que levou à bancarrota atual daquele país, situação similar à que teríamos, caso tivessem ganho os tucanos naquela oportunidade.

Graças à derrota tucana, nos livramos da Alca, dos Tratados de Livre Comércio com os EUA e de termos atrelado nossa economia aos países que se tornaram os epicentros da crise internacional. Ao contrário, diversificamos nosso comércio exterior com o Sul do mundo – a China se tornou o primeiro parceiro comercial do Brasil, deslocando, pela primeira vez, os EUA dessa posição – e com os países da região.

Essa reinserção internacional é um dos avanços estratégicos que tem que ser considerados prioritariamente pela esquerda, cuja luta por enfraquecer a hegemonia imperial norte-americana e trabalhar por um mundo multipolar, é uma das marcas que a caracteriza como esquerda no período histórico atual.

Quando o candidato tucano fala em sair ou enfraquecer ainda mais o Mercosul – ainda mais quando a Venezuela ingressa -, em terminar com as alianças com o Sul do mundo para restabelecê-las – obrigatoriamente de maneira subordinada e vulnerando nossa soberania – com as potências centrais do capitalismo, não apenas quer restabelecer nossa posição subordinada e de perfil baixo no mundo, mas também retomar as condições da falta de autonomia para nossas políticas internas. Embora queira aparecer como continuidade do governo Lula – sabendo que, eleitoralmente, será derrotado, se aparecer como opositor frontal -, o candidato tucano vai deixando escapar o que realmente pretenderia fazer, caso ganhasse. A inserção internacional do Brasil seria radicalmente reformulada, em detrimento da prioridade de alianças regionais e com o Sul do mundo, vulnerando assim abertamente as condições de soberania, que são condição não apenas da nossa força externa, mas também da nossa autonomia para desenvolver nossas políticas internas.

Aqui entra o segundo ponto: a avaliação de políticas e de governos, conforme se coloquem a favor ou contra o modelo neoliberal. O governo FHC, depois do fracasso do governo Collor e da retomada do projeto neoliberal pelo governo Itamar, representou o mais coerente projeto neoliberal que o país conheceu, promovendo a desregulamentação e a mercantilização de forma generalizadas. Debilitou o papel do Estado em todos os planos, promoveu privatizações corruptas do patrimônio público, abertura acelerada da economia, proteção do capital financeiro, promoção das políticas de livre comércio no plano externo, exemplificadas no seu mais alto nível na promoção da Alca, precarização das relações de trabalho – com a maioria dos brasileiros passando a não dispor de carteira de trabalho -, entre outros atentados aos direitos sociais, à igualdade e justiça sociais, à democracia e à soberania do Brasil. Expropriou direitos em favor do mercado e da mercantilização, na educação, na saúde, na cultura, em tudo o que pôde.

O governo Lula freou o processo de privatizações – que teria avançado para a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Eletrobrás, caso os tucanos seguissem governando -, retomou a temática do desenvolvimento econômico, como central, aliada indissoluvelmente à extensão dos direitos econômicos e sociais da grande maioria dos brasileiros, situados na pobreza e na miséria, retomou o papel central do Estado na indução do crescimento econômico e da distribuição de renda, brecou o processo de privatização da educação, fortalecendo as universidades públicas, entre outras ações, todas na contramão do modelo neoliberal. Fortaleceu direitos, promoveu a desmercantilização, avançou na democratização das nossas relações sociais e econômicas, como nenhum outro governo tinha feito.

São essas duas referências que dão o caráter da candidatura da Dilma para a esquerda: reinserção internacional do Brasil, fortalecendo os processos de integração regional e as alianças com o Sul do mundo, e enfraquecimento do processo de mercantilização desenfreada promovido pelos tucanos, fortalecendo os direitos, a esfera pública, o papel regulador e indutor do crescimento e dos direitos sociais do Estado.

Quem se propõe a afetar a soberania do Brasil e a questionar ações centrais para a retomada do tema do desenvolvimento – abolida e substituído pelo do ajuste fiscal pelos tucanos -, tentando desqualificar o PAC, prega o maior retrocesso que o Brasil poderia ter hoje, retomando temas jurássicos como as alianças prioritárias com os EUA, o abandono dos processos de integração regional na América Latina e no Sul do mundo.

Daí a polarização entre o campo progressista e o de direita nas eleições deste ano. Qualquer postura que pregue a anulação das diferenças substanciais entre os dois campos, desconhece a realidade objetiva, tenta fazer passar seus desejos com a realidade, e a ameaça cometer de novo o gravíssimo erro estratégico de fazer o jogo da direita, ao considerar – como fizeram em 2006, que Alckmin e Lula seriam iguais, sem que tenham feito autocrítica, por exemplo, sobre o que seria do Brasil na crise, sob direção tucano-demista – de que em um segundo turno se absteriam. A definição da posição no segundo turno deve ser feita desde hoje – pelos candidatos da extrema esquerda, assim como por Marina -, e revela a inserção de cada candidatura no campo da esquerda ou não.

A vitória do campo popular permitirá impor uma derrota estratégica à direita, mandará para a aposentadoria uma geração de políticos de direita, abrirá espaço para a saída definitiva do modelo neoliberal e a construção de um país democrático, justo, solidário, soberano, ao longo de toda a primeira metade do novo século.

Governador de província ultramarina

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santanaoxente:

O escritor e jornalista Nelson Rodrigues em uma das suas famosas crônicas esportivas declarou que o brasileiro livrou-se do complexo de vira-lata quando ganhou o primeiro campeonato mundial de futebol.
Antes disso, dizia ele, vivia como um cão de rua, abandonado, humilhado, principalmente após a memorável derrota para a seleção do Uruguai em 1950, e em pleno Maracanã, perante 200 mil torcedores nacionais absolutamente boquiabertos e irreversivelmente traumatizados.
No plano da política internacional brasileira, vira e mexe, há algo parecido quando determinadas elites conservadoras do nosso País alinham-se aos EUA de maneira incondicional e, às vezes, degradante mesmo.
Recentemente, durante o governo Fernando Henrique Cardoso o então ministro das Relações Exteriores Celso Lafer sujeitou-se a tirar os sapatos em uma revista de aeroporto para poder entrar nos Estados Unidos.
Não pode haver maior simbolismo negativo de uma diplomacia internacional do que semelhante cena que correu o mundo através da televisão e fotos, em troca de elogios da grande mídia norte-americana, enaltecendo a “civilidade e lucidez” do então governo brasileiro.
Atualmente o Brasil é considerado um País altivo, independente, que busca desempenhar um papel de primeira grandeza no cenário da geopolítica internacional. E por isso vem sofrendo duras e injustas críticas, da parte dos EUA e Inglaterra, por suas atitudes e posições nos principais fóruns mundiais.
Não tem sido por acaso a ofensiva norte-americana em oposição à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Porque ela produzirá muita energia de alta qualidade e absolutamente limpa, possibilitando a contínua industrialização do parque produtivo brasileiro, associado às políticas ambientais das mais consequentes e avançadas do mundo.
De olho nas riquezas da Amazônia, os EUA e a Inglaterra provocam sistemáticas ações contra a nossa soberania. Foi o caso da presença do cineasta James Cameron em nosso território, proferindo insultos à nossa inteligência e à verdade, acostumado como está, com o status de cidadão de um império colonial.A grande mídia hegemônica nacional conferiu às declarações do cineasta, pretenso candidato a governador de províncias ultramarinas, a dimensão das suas verdadeiras intenções, a de que o Brasil deve retornar em 2010 ao posto de nação subalterna, sentada ao chão, subserviente, tirando os sapatos e despojando-se da sua independência.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tiradentes e a soberania nacional


Artigo de Aldo Rebelo, publicado no Vermelho:

Tiradentes e a atualidade da Questão Nacional

Liberdade – essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
Cecília Meireles, em O Romanceiro da Inconfidência

A atualidade de Joaquim José da Silva Xavier deve ser celebrada no 218º aniversário de sua imolação como símbolo de um movimento de autonomia nacional que ainda hoje está por se completar na formação social brasileira. A Conjuração Mineira foi um daqueles sonhos a que os homens se entregam por intuírem o caminho da História antes de a História lhes oferecer as condições determinantes para a materialização do sonho. Assim ocorreu com a Comuna de Paris, em 1791, definida por Karl Marx como uma tentativa de tomar o céu de assalto. Como já tive oportunidade de observar, também aos revolucionários de Vila Rica a História não recusou a razão, mas lhes negou a oportunidade.

O projeto político de conquistar a Independência e proclamar a República do Brasil foi muito além da troça que certos centros de pensamento querem lhe atribuir, apontando os conjurados como mais interessados em não pagar impostos à Coroa portuguesa do que em fundar uma nação. Joaquim José da Silva Xavier foi líder visionário, não um fantoche manipulado pela elite de Vila Rica, que, afinal, se era elite interessada na Independência do Brasil, constituía o povo da época. Como na memorável luta contra os holandeses no Nordeste, no século anterior, em Minas também se reuniam pela causa nacional os reinóis, os mazombos, os mestiços. Todos foram punidos, uns com a morte na cadeia, outros com o degredo e Tiradentes com a forca. Os banidos para a África e que lá morreram só voltariam à pátria por ordem do presidente Getúlio Vargas, que em 1942 mandou buscar um a um os heróis falecidos no desterro.

Inspirados por versos de Virgílio [Libertas quae sera tamen], reivindicavam liberdade ainda que tarde, e tinham como fonte os filósofos do Século das Luzes que refletiam a crise do Absolutismo e do Colonialismo no século XVIII e forjavam novas idéias e poliam os homens que iriam lutar e morrer por elas. Os conjurados de Minas Gerais miravam as nuvens que a Ilustração espalhara no céu da democracia, do que foram exemplos mais eloqüentes a Independência dos Estados Unidos da América, que nasciam como república, e a gloriosa Revolução Francesa. Nações em formação no Novo Mundo, como a americana e a brasileira, e as Colômbias de Simon Bolívar, já eram grandes demais para caber no apertado gibão da Europa feudal em transição para o capitalismo.

O sonho dos conjurados era implantar fábricas de tecidos e siderurgias na colônia que queriam tornar país. Tiradentes desenvolveu sua consciência política patrulhando o Caminho Novo, que ligava Minas ao Rio, por onde via passar as riquezas das jazidas auríferas do Brasil desviadas para Portugal, na quota de 100 arrobas de ouro por ano, aumentada em 1762 para oito mil quilos a título de dívida fiscal atrasada. O esbulho levava o nome de derrama.

Preterido nas promoções da Cavalaria, nunca tendo passado do posto de alferes, estabeleceu-se no Rio, levando a vida como qualquer do povo, trabalhando de mascate, tropeiro, boticário e dentista. Não era um homem sem luzes: órfão, sem nunca ter feito estudos regulares, projetou a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para melhorar o abastecimento de água da sede do vice-reino. Há notícias de que admirava o progresso industrial da Inglaterra, guardava um exemplar da Constituição dos Estados Unidos e citava a figura do presidente da República em oposição a um rei distante.

Depois de enforcado, em 21 de abril de 1792, no Largo de Lampadosa, atual Praça de Tiradentes, no Rio de Janeiro, teve os restos mortais espalhados na estrada que patrulhara e onde tecera seu sonho de Independência política, econômica e cultural do Brasil. Seus algozes o queriam maldito e esquecido, mas cada parte de seu corpo esquartejado parece ter servido de semente para a árvore da liberdade que germinou no Brasil e ornamentou os versos de Cecília Meireles. O povo do Rio de Janeiro logo mandou celebrar missas na intenção da alma do herói, e, pelo repúdio público, fez com que o traidor Joaquim Silvério dos Reis mudasse o nome para Montenegro e o domicílio para o Maranhão.

A atualidade de Tiradentes é a mesma da Questão Nacional que ele antecipou antes da expressão. Seu vulto histórico nos repõe a importância e urgência de um projeto de autonomia nacional com vistas à consolidação de um País forte, soberano, próspero, que produza e distribua riquezas suficientes para assegurar o bem-estar material e espiritual desta civilização única que erguemos nos trópicos.

Desde a infância da Nação esta tem sido uma empreitada difícil. A mesma rainha louca Maria I que mandou esquartejar Tiradentes, promulgou um alvará proibindo fábricas no Brasil e mandou destruir até os teares em que as mulheres fiavam a roupa dos filhos. Quase um século depois, os próceres da República, empenhados em industrializar o Brasil, eram dissuadidos pela casa bancária inglesa dos Rotschild, que nos recomendava exportar café e deles comprar linha, agulhas e botões. Foi na construção da identidade nacional que a República resgatou o heroísmo de Tiradentes.

As lutas do passado continuam, por outros meios e caminhos, no presente. Os embates que o Brasil trava contra o protecionismo das grandes potências, as pressões para a liberalização comercial que nos engoliria como país produtor de riquezas, e tantas outras ofensivas, fortalecem a convicção de que a Questão Nacional está viva, e aponta para a necessidade de mantermos a soberania nacional como atributo essencial do Estado.

Nos dias de hoje, sofremos um tipo novo de intervenção que nos limita a autonomia de dispormos de nosso território e recursos naturais em benefício do desenvolvimento e do bem-estar do povo. A abertura de estradas, construção de hidrelétricas, vivificação das zonas de fronteira, modernização de leis para ampliação da agricultura e democratização da propriedade da terra são boicotadas por governos estrangeiros e suas cabeças de ponte chamadas ONGs do meio ambiente. O exemplo histórico de Tiradentes é um alento para continuarmos a luta pela autonomia de um projeto nacional e soberania do Brasil.

Renato Rabelo: The Economist, o Bric e a máxima de Lukács


No Vermelho, artigo publicado originalmente no blog de Renato Rabelo, presidente do PCdoB:


É muito elucidativo ler uma das matrizes do pensamento neoliberal que é a revista inglesa The Economist. Algumas semanas atrás comentamos aqui neste espaço um editorial desta mesma revista que criticava a política atual do Governo Lula e das propostas da pré-candidata Dilma Rousseff no rumo do fortalecimento do Estado Nacional. Agora seus editores voltam à carga para criticar as reuniões dos Brics, com os argumentos já sobejamente utilizados pela grande mídia brasileira, demonstrando a identidade entre eles.

Certa vez num arroubo de lucidez, o filósofo húngaro Georgi Lukács exprimiu uma síntese muito útil a este momento em que a irracionalidade liberal tenta literalmente roubar corações e mentes pelo mundo. Segundo este filósofo “o cerne a-histórico do pensamento burguês se expressa na falta da compreensão do fenômeno como problema histórico”.

A última edição da The Economist expressa literalmente essa máxima. Sob o título de “Brics são incapazes de promover mudanças”, com o mote de escamotear qualquer reforma do sistema financeiro internacional e do FMI, eles listam uma série de assimetrias entre os países membros do Bric, entre elas: a concorrência estratégica e comercial entre os países por mercados de terceiros países, os diferentes regimes “democráticos” e “não-democráticos”, a rivalidade entre China e Índia e a falta de capacidade dos Bric em reivindicar “coerência legal, histórica ou geográfica, da forma como a União Europeia pode”.

Eles se esquecem do bê-á-bá da política estratégica internacional, entre elas a de que alianças estratégicas se fazem em torno de objetivos comuns. O Bric se estabelece, exatamente, com base em finalidades estratégicas que se contrapõem aos interesses e planos das grandes potências capitalistas, sobretudo dos Estados Unidos. No caso do Bric existe um clamor pela democratização do sistema internacional, da reforma do sistema financeiro internacional e – o mais importante – da formação de um escudo ante os efeitos das decenais crises financeiras. Isso tudo além dos acordos políticos de reforma da ONU e de outros organismos multilaterais.

Seria mais correto falar em divergências do que rivalidades entre os quatro países. Por exemplo, desde que a planificação tornou-se uma alternativa à anarquia da produção, principalmente no âmbito do comércio internacional, problemas de disputas comerciais – a título de exemplo – entre a China e a Índia passou a ser amplamente favorável para o país hindu. As questões de fronteiras entre os dois países estão caminhando a passos rápidos desde que o Paquistão passou a girar na órbita do imperialismo em detrimento da antiga influência chinesa. O caso mais grave no sentido econômico, o brasileiro, em que sua economia industrial tende a sofrer ante a concorrência externa, é mais um problema próprio do Brasil do que por imposições de políticas monetárias por parte de países como a China. E por aí vai...

Os editores desta publicação-tumba deveriam buscar a coerência estratégica entre países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a França nos entreatos das duas grandes guerras. Qual era o objetivo estratégico dos EUA com a formação de um sistema político internacional baseado ora na Liga das Nações, ora na ONU? Todo mundo sabe: tanto Woodrow Wilson, quanto Franklin Roosevelt estava de olho no império colonial inglês e francês. Houve escaramuças entre tais países? Não. A França deixou de girar na órbita dos EUA mesmo em momentos antiamericanos como o da época de Charles de Gaulle?

O que a The Economist propõe? Que o Brasil seja mais um México e entre no Nafta e se transforme num território livre do narcotráfico? Uma nação de joelhos ante o poder paralelo do imperialismo? Esse tipo de questão a história já se encarregou de responder.

México: o neoliberalismo e as novas "Guerras do Ópio"


Editorial do jornal Página Iberoamericana, de abril de 2010, publicado no Resenha Estratégica:


Desde que o México aderiu ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, em inglês), conduzido pelo presidente Carlos Salinas de Gortari, no fatídico ano de 1994, o narcotráfico e o crime organizado se consolidaram e deixaram de ser um problema meramente policial, convertendo-se paulatinamente em uma estrutura de poder paralelo, desfrutando das prerrogativas conferidas pelo seu acesso direto ao sistema político-econômico vigente.
Uma década e meia depois, o NAFTA aniquilou os mecanismos de defesa econômica do Estado mexicano. Na ocasião, se dizia que as reformas do sistema financeiro e creditício nacional, a começar pela concessão de autonomia ao Banco Central, em 1993, e a internacionalização do mercado de valores - ambos considerados condições sine qua non para o ingresso na "modernidade". Escusado dizer que qualquer medida de proteção econômica passou a ser rotulada como anacrônica e superada.
Tais condicionantes eram o passaporte exigido pela oligarquia anglo-americana para que o país ingressasse no pacto livrecambista - o que ocorreu em condições de virtual submissão. Nos anos seguintes, na medida em que as consequências do acordo se manifestavam, o México se afastava cada vez mais da prosperidade prometida. Ao final, chegou-se à atual encruzilhada, na qual a economia nacional tem o seu destino entregue aos desígnios de um poder financeiro transnacional que controla setores vitais. Entre eles, destaca-se o sistema bancário do país, que foi totalmente liberalizado e não apenas tem participado ativamente da lavagem dos bilionários rendimentos do narcotráfico, como também se alimenta deles para alimentar os fluxos da especulação financeira.
A simbiose entre o sistema econômico-financeiro neoliberal e o narcotráfico se tornou tão perfeita que o combate efetivo a este último é virtualmente impossível com a manutenção do primeiro. Por isso, embora o governo federal mexicano tenha engajado nada menos que 90 mil militares - mais da metade do efetivo do Exército - no combate aos cartéis de drogas e, a despeito de importantes sucessos táticos, não é realista pensar em uma vitória decisiva na guerra ao narcotráfico, que permita reduzi-lo a níveis residuais.
Em verdade, a iniciativa encontra-se com os narcocartéis, que têm promovido um verdadeiro banho de sangue no país. Nos últimos cinco anos, quase 20 mil pessoas foram mortas em decorrência da violência decorrente das guerras entre os cartéis e suas ações contra as forças legais e a população. Em uma demonstração da escalada da violência, apenas em 2009 ocorreram cerca de 7.800 assassinatos.
Em termos práticos, os esforços do Estado mexicano - como, de resto, de qualquer outro - contra o narcotráfico se assemelham ao enxugamento de gelo. Isto pela simples razão de que eles estão voltados contra as redes operacionais do inimigo a ser vencido e os seus capos de terceiro escalão, que, por mais poderosos que pareçam, são apenas peças descartáveis de um aparelho cujo "estado-maior" funciona dentro do sistema bancário internacional, que controla a lavagem de dinheiro sujo proveniente do negócio mais lucrativo do mundo. No México, a própria Unidade de Inteligência Financeira da Secretaria de Fazenda está assustada com o drástico aumento das operações de lavagem de dinheiro, nos últimos anos. Algumas estimativas colocam a movimentação anual de recursos do narcotráfico na casa de 35-40 bilhões de dólares - equivalente à receita das exportações do setor manufatureiro mexicano.
Em suma: mobilizar as Forças Armadas para uma guerra assimétrica travada em um terreno que lhes é extremamente desfavorável é não apenas inócuo e contraproducente, mas também um desrespeito à sua trajetória histórica. Se o sistema financeiro internacional encontra-se ameaçado de uma bancarrota generalizada por conta dos seus próprios excessos e, portanto, ávido da liquidez financeira que lhe proporcione alguma sobrevida, é ingênuo pensar que contribuirá para matar a galinha dos ovos de ouro representada pela lavagem de todo tipo de dinheiro oriundo de atividades ilícitas, que geralmente andam entrelaçadas. Talvez, as lideranças responsáveis pela estratégia de combate ao crime organizado, a começar pelo próprio presidente Felipe Calderón, ignorem que a estrutura financeira de apoio ao comércio internacional das drogas emergiu, precisamente, das Guerras do Ópio lançadas contra a China pelo Império Britânico no século XIX (esta é a origem do célebre Hongkong and Shangai Banking Corporation, fundado em 1864).
Qualquer estratégia de combate efetivo ao narcotráfico e o crime organizado em geral terá que combinar o combate direto contra as forças paramilitares dos cartéis - reconhecidamente poderosas -, para despojá-las do controle territorial que exercem de fato, em paralelo com uma investida determinada contra as redes de lavagem de dinheiro. Para tanto, ninguém se iluda, será imprescindível a retomada do controle efetivo da moeda e do crédito nacionais, hoje em mãos estrangeiras.
Em âmbito internacional, o México deveria somar-se à iniciativa de alguns países, encabeçados pela França, para pressionar por uma imediata regulamentação do sistema financeiro internacional, aí incluído o fechamento das grandes lavanderias de dinheiro ilícito dos paraísos fiscais. O efeito seria duplo, pois, ao mesmo tempo, implicaria em uma iniciativa diplomática soberana frente aos EUA, para, efetivamente, "desnarcotizar" as relações bilaterais, como se diz no México. Sem tal determinação, a guerra ao narcotráfico permanecerá sendo apenas um jogo pirotécnico.

domingo, 18 de abril de 2010

Botafogo campeão !


O Botafogo conquista o título antecipado de campeão carioca de 2010 vencendo na tarde de hoje a Taça Rio e já tendo vencido a Taça Guanabara em 28 de fevereiro. O Glorioso conquista o seu 19º título estadual.

Cresce a consciência política na juventude


UNE e UBES em Alagoas, em parceria com o TRE-AL, realizam a campanha "Se liga 16!", discutindo com os jovens sobre a importância de sua participação ativa no processo eleitoral e no projeto de nação para o Brasil. Parabéns a Cláudia Petuba, diretora da UNE e Naldo, diretor da UBES, pela sua importante atuação na campanha.


Veja o desenrolar da campanha e sua programação, com um clique:


O papel estratégico do Brasil


Resolução da Comissão Política Nacional do PCdoB sobre a atual política externa brasileira e a reunião dos chefes de Estado e de Governo dos fóruns Bric e Ibas:

A realização no Brasil da reunião dos chefes de Estado e de Governo dos fóruns Bric e Ibas é um acontecimento de importância extraordinária. Brasília, que completa 50 anos na próxima semana, sediou a primeira reunião conjunta desses fóruns, a 2ª Cúpula do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e a 4ª Cúpula do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul). Juntos, os países do Bric e do Ibas representam uma população de quase a metade da humanidade, mais de um quarto do território e mais de 15% do PIB mundial.

Leia mais em:

sábado, 17 de abril de 2010

Soberania em Belo Monte

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:

A crítica do vice-presidente da República José de Alencar ao cineasta norte-americano James Cameron sobre suas declarações contrárias à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, foram extremamente procedentes.
O diretor de Avatar declarou que é contra a construção da hidrelétrica e que vai procurar o Senado dos EUA com o objetivo de pressionar o Brasil. Resta saber se ele também irá convocar a sétima cavalaria sob o comando do general Custer que depois de trucidar quase todas as tribos indígenas dos EUA deve ter ficado sem emprego não se sabe ao certo em qual instância da eternidade.
A hidrelétrica de Belo Monte é na verdade um projeto estratégico de desenvolvimento, totalmente nacional, e será a terceira maior do mundo. Todos os estudos de impacto ambiental estão sendo feitos pelo Ministério do Meio Ambiente e o IBAMA.
É impensável que qualquer ONG ou cineasta atreva-se a fazer semelhante estardalhaço sobre qualquer projeto fundamental aos EUA em seu próprio território. Muito menos aqueles que são decisivos à sua soberania.
E quem o fizer poderá ser acusado de traição nacional se for cidadão norte-americano. Sendo estrangeiro, corre o risco de ser acusado como membro de alguma organização dita terrorista e islâmica.
Mister Cameron não deve e não pode meter-se nos assuntos internos de nenhuma nação e muito menos do povo brasileiro detentor da maior reserva florestal do mundo, ao contrário dos EUA que além de cometer genocídio dos povos indígenas, destruiu praticamente todas as suas florestas nativas. O que tem por lá mesmo é muito eucalipto replantado.
Mas o fundamentalismo ambientalista é na verdade um movimento de ONGS internacionais e filiais, inclusive brasileiras, pautadas contra o crescimento econômico e a qualidade de vida dos povos e das nações em desenvolvimento.
Que exalam um espírito de seita, intolerantes e fanáticas, fartamente financiadas, diretamente ou indiretamente, por Washington ou Londres. Fanáticas e intolerantes, mas que não rasgam dinheiro. Ou seja, fanáticas, mas sabichonas.
Além da responsabilidade indiscutível do Brasil para com a preservação do meio-ambiente, o que se encontra em jogo é o desenvolvimento do País, a melhoria constante das condições de vida do seu povo e acima de tudo a luta permanente em defesa da soberania nacional sempre ameaçada.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ênio Lins na Gazeta de Alagoas

Publicado na coluna de José Elias, na Gazeta de Alagoas, assinada inteirinamente por Ênio Lins:

Divulgada ontem, pesquisa assinada pelo instituto Sensus aponta empate técnico entre Serra e Dilma. 32,7% para ele e 32,4% para ela. Uma ducha de água fria para a oposição e um estimulante turbinado para a situação.
Pelos dados registrados junto ao Tribunal Superior Eleitoral, a pesquisa teria sido realizada através de duas mil entrevistas em 24 estados durante o período de 5 a 9 de abril. Relembrando a memória do eleitorado, esse deveria ter sido um tempo ótimo para Serra, que ocupava praticamente todo o noticiário nacional com sua renúncia ao governo paulista e os preparativos para o lançamento bombástico de sua candidatura (ato realizado no dia 10 de abril). Ou seja, o resultado é bem ruim para a oposição.
Ciro Gomes e Marina Silva patinam tal qual nas pesquisas anteriores, ele com 10,1%, ela com 8,1%. Solidifica-se a polarização (esperada) entre Serra e Dilma, o que reforça a tese da “eleição plebiscitária”.
Uma badalada pesquisa anterior, realizada pelo Vox Populi e divulgada em 4 de março indicava Serra com 34% contra 31% ostentados por Dilma. Resultado que já havia tirado o sono da oposição, embora animando os partidários de Aécio Neves. Naquela ocasião usou-se novamente a esfarrapada desculpa que o candidato tucano “não havia começado a campanha”. Hoje essa conversa não voga mais.
Resumo da ópera, hoje: 1) A candidatura favorita (Serra) não decola apesar dos seis anos de paciente campanha. 2) A candidatura azarã (Dilma), pega fôlego, mesmo sob intenso bombardeio da grande mídia. 3) As candidaturas periféricas estão longe de algum papel eleitoral relevante (a não ser se aliar a uma das duas protagonistas).
Alguma coisa estranha? Isso é apenas o começo de uma campanha que promete ser acirrada e distanciada dos oráculos do tipo “resultado antecipado”.

sábado, 10 de abril de 2010

Discurso de Renato Rabelo no ato nacional do PCdoB em apoio a Dilma Roussef













O PCdoB realizou ato de apoio à pré-candidata à Presidência da República, Dilma Roussef, na noite desta quinta-feira, 08/04, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com auditório lotado, o ato contou ainda com a presença de diversos artistas e expressivas lideranças, também de outros partidos, dentre os quais o vice-presidente da República, José Alencar, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra e os ministros Orlando Silva (Esporte) e Carlos Luppi (Trabalho).
O espaço disponível para cerca de mil pessoas acabou sendo limitado, o que fez com que muita gente tivesse de assistir do lado de fora, por meio de um telão.
Aqui, o discurso do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo:

Estimada Dilma,

Neste Encontro Nacional reunimos grande parte dos mais destacados quadros, dirigentes e lideranças de várias áreas de atividade do Partido, de todos os estados e do Distrito Federal.
Também convidamos estimados aliados e amigos e contamos com muita honra com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente José Alencar, e de presidentes de partidos amigos, para anunciar entusiasticamente a decisão – em votação unânime, tomada pelo órgão central da direção nacional do PCdoB, o seu Comitê Central, em reunião de hoje (08/04) – que consistiu em sua manifestação de apoio à pré-candidatura de Dilma Rousseff à presidência da República. Essa posição será oficializada em sua Convenção Eleitoral Nacional que se realizará no próximo mês de junho.

Jogo de espelhos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:

Na luta de ideias quando faltam os argumentos políticos, históricos ou teóricos, sobre a análise concreta da realidade concreta, às vezes a coisa sobra para a ideologia que nesses casos sofre tremendamente e paga toda a conta pelos desencontros de certas formulações com os fatos e a vida real.
É o caso específico de Fernando Henrique Cardoso que na ausência de justificativas convincentes contrárias à eleição de Dilma Rousseff, candidata do presidente da República ao pleito de outubro próximo, arremessa contra o governo Lula um rosário de impropriedades no mínimo surrealistas.
Primeiro, o ex-presidente Fernando Henrique, em artigo-entrevista publicado na grande mídia hegemônica nacional, alerta contra a possibilidade da efetivação de um tal de pensamento único no Brasil.
Considerando que no Brasil reinam as mais absolutas e inquestionáveis liberdades democráticas e de imprensa, onde a única hegemonia concreta que existe efetivamente é a dessa grande mídia nacional contra o governo Lula, deduz-se que FHC investe mesmo é contra o apoio da esmagadora maioria dos brasileiros em relação ao governo do atual presidente da República.
Ou seja, o sociólogo, ex-mandatário principal da nação, atenta de fato contra a soberania popular, como se para ele o problema central do Brasil fosse a vigência da democracia plena.
Significa que não descartaria algum tipo de golpe, seja ele qual fosse, contra o resultado das próximas eleições. Dessa maneira, ou não acredita nem um pouco na vitória de José Serra, o seu candidato, ou considera as eleições absolutamente inconvenientes à tentativa de retorno do projeto neoliberal ao Brasil.
Ainda no mesmo artigo-entrevista à grande mídia hegemônica nacional o senhor Fernando Henrique diz que o Brasil marcha para o que considera um capitalismo chinês.
A tradução é que o crescimento econômico, a inserção de milhões no mercado de trabalho, o fortalecimento da indústria, os programas sociais, o soerguimento do Estado e da soberania nacional, seriam resultantes nocivas à doutrina neoliberal, o que seria, nesse caso, o único raciocínio coerente.
Enfim, FHC, em uma única entrevista, lança-se contra a democracia e o desenvolvimento do País. E às avessas, como em um jogo de espelhos, é ele mesmo quem alardeia o pensamento único autoritário, o Estado mínimo impotente e a estagnação econômica.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Aldo Rebelo lança "Palmeiras x Corinthians 1945" em SP

O deputado federal Aldo Rebelo é um torcedor apaixonado do Palmeiras. E foi visitando a sala de troféus do time que encontrou uma taça com a instigante inscrição “Homenagem do Movimento Unificador dos Trabalhadores”. Começou aí uma pesquisa sobre a partida realizada entre Palmeiras e Corinthians, há mais de 60 anos, para arrecadar fundos para o Partido Comunista do Brasil. O resultado do trabalho é o livro "Palmeiras x Corinthians 1945: o jogo vermelho", a ser lançado nesta sexta-feira, em São Paulo.

Leia mais em:

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=127367

sábado, 3 de abril de 2010

Reflexões sobre a grande mídia nacional



De Emir Sader, publicado no Carta Maior:

A decadência da imprensa brasileira

A imprensa brasileira teve momentos da historia do país em que desempenhou papel determinante. Basta recordar o peso que teve nas mobilizações de desestabilização que levaram ao golpe de 1964, em que jornais como O Estado de Sao Paulo, a Tribuna da Imprensa, o Correio da Manhã, entre outros, tiveram o papel, pela primeira vez, de condutores ideológicos e políticos das forcas opositoras.


Setores da imprensa tiveram também um papel positivo, na campanha das diretas, quando outros tentavam esconder a amplitude do movimento e seu verdadeiro significado.


Assistimos hoje à decadência generalizada dessa mesma imprensa, que martela, cotidianamente, praticamente de forma total e monótona, ataques contra o governo Lula, logrando, no entanto, que apenas 5% da população rejeite o governo, enquanto mais de 80% o apóie. Nunca a imprensa brasileira esteve tão distante e contraposta à opinião do povo brasileiro. Daí seu isolamento e decadência, pelo menos sob sua forma atual.


As organizações Globo, que só possuiam um jornal, sem nenhuma importância, no Rio, antes do golpe, tiveram na ditadura sua grande alavanca, mas, ao mesmo tempo, o golpe insuperável de falta de credibilidade. Ficaram com a marca da ditadura, por mais que tentassem se reciclar, importando colunistas, usando a audiência da televisão para tentar conseguir mais público.


Atualmente dispõe de um trio que atenta contra qualquer credibilidade, que dá a tônica do jornal: Merval Pereira, Ali Kamel e Miriam Leitão. Todos os três se caracterizam por serem as vozes do dono, por sua postura propagandística, sem nenhum interesse no que dizem, nem brilho ou criatividade no que escrevem. São funcionários burocráticos da empresa, que exercem, da maneira que conseguem, seu burocrático papel de opositores, buscando catar supostas fraquezas do governo, que é seu único objetivo.


Nenhum tipo de análise, nenhuma nuance, nenhuma idéia. Para um jornal que precisaria desesperadamente de credibilidade, eles são um tiro no pé, uma confirmação da falta de credibilidade do jornal. O resto do jornal – das manchetes de primeira página às colunas de notícias – padece desse freio da rígida linha editorial, fazendo um jornal sem graça, sem interesse, sem repercussão.


No Rio de Janeiro, o conjunto dos órgãos da empresa, mesmo atuando fortemente a favor de algum candidato, perdem sempre. Lula ganhou nas duas últimas eleições no Rio; os Garotinhos, Sergio Cabral, Paes, mesmo Cesar Maia, se elegeram sem o apoio do jornal, que os atacava. Hoje, contra a vontade majoritária da grande maioria dos brasileiros, ficam de novo, acintosamente, na contramão da opinião do povo e do país, incluído claramente o povo do Rio de Janeiro, que sabe separar programas de diversão que lhe gosta ver, das inverdades que diz o jornal e os noticiários de rádio e televisão da Globo.


Diminuem sua tiragem, perdem público abertamente para a internet, para os jornais gratuitos, para os jornais populares vendidos. Melancolicamente, se arrasta o jornal, na fúria antilulista, sem repercussão política alguma.


O Estadão sempre foi o jornal conservador por excelência, com certa discrição, boa cobertura internacional, posições claramente direitistas. Conforme foi perdendo público para a FSP, que aparecia mais atraente para os jovens, mais ligada à oposição à ditadura, tratou de rejuvenescer. Como jornal mais organicamente ligado às entidades empresariais, tem uma avaliação mais equilibrada da política econômica, valorizando seus avanços, no marco das críticas tradicionais do liberalismo dos “gastos excessivos do Estado”.


Além do papel do Estado na economia, suas maiores preocupações e críticas ao governo são na política internacional. Sua predileção, em tudo e por tudo, com os EUA, fica ferida com as alianças com os países do Sul do mundo e com os da América Latina em particular. A política externa soberana do Brasil os incomoda profundamente, transformando-se num dos temas mais usuais e violentos dos editorais.


O outro são os movimentos sociais, em particular o MST, que causa ojeriza ao Estadão, pela defesa intransigente do direito à propriedade privada, pilar do sistema capitalista. (O jornal foi praticamente o órgão oficial das passeatas de preparação do golpe de 64, na defesa da “liberdade, da família e da propriedade”, valores aos quais continua fiel.) A liberdade, que inclui centralmente a de “imprensa” (privada, diga-se), protagonizada pela SIP – Sociedade Interamericana de Prensa -, órgão da Guerra Fria, cenário a que o jornal, rançoso, ainda se sente apegado. Os editoriais, sempre, e atualmente Dora Kramer, são os momentos mais patéticos do jornal, saudoso da Guerra Fria.


A FSP é o jornal que mais teve oscilações de imagem. Era um jornal sem nenhum peso até o golpe e mesmo durante boa parte da ditadura militar. O Estadão era o grande jornal de São Paulo. A FSP apoiou ativamente a preparação do golpe militar, sua realização e a instauração da ditadura, cumpriu tudo o que a ditadura determinava, com noticiários que escondiam os sequestros, desaparecimentos, execuções, publicando as versões oficiais, emprestando carros da empresa para a Oban.


Foi ao longo dos anos 80, quando levou Claudio Abramo do Estadão, que a FSP, pela primeira vez, ganhou prestígio, buscando espaço próprio na oposição liberal à ditadura. Pretendeu ser o órgão da “sociedade civil” contra o “Estado autoritário”, conforme a ideologia hegemônica na oposição, advinda da teoria do autoritarismo de FHC. (A FSP tirava, todo ano, uma foto no teto do seu prédio na Barão de Limeira, com os que ela consderava os representantes da “sociedade civil”, de empresários a líderes sindicais, como que para expresar fisicamente esse vínculo organizado com os setores que se opunham, em graus distintos, à ditadura.)


Consolidou essa imagen emprestando suas páginas para uma certo pluralismo, com um cronista semanal – Florestan Fernandes, Marilena Chaui, entre os mais conhecidos – do PT, e distintos políticos, intelectuais e líderes sociais escrevendo na sua página de opinião.


Desde a eleição de FHC, entrou em decadência, perdendo totalmente a credibilidade que o diferenciava. Colunistas com vínculos pessoais com os tucanos, como Clovis Rossi, Eliane Catanhede, outros, decadentes, como Jânio de Freitas, se arrastam melancolicamente na decadência geral do jornal, o que mais despencou na tiragem e o que mais se transformou nas duas últimas décadas. O filho do Frias pai conduz o jornal pelo abismo da intranscendência e do rancor, se parecendo cada vez mais com a Tribuna da Imprensa da época de Carlos Lacerda.


A Veja se assume, grotescamente, como o Diário Oficial da extrema direita, com paquidermes como colunistas, sensacionlismo de capa, projetando-se como má espécie de bushismo brasileiro. Com dificuldade para conciliar sua imagem de revista de generalidades com esse papel de brucutu da imprensa nacional, foi perdendo aceleradamente tiragem, o que aumenta a crise financeira que levou a empresa a pendurar-se em capitais externos.


Poderia ser menos afetada pela crise generalizada da imprensa, por ser uma revista semanal. Mas a brutalidade da sua orientação política a fez incorporar-se de cheio nessa queda. Terá papel ainda mais truculento na campanha eleitoral, jogando tudo para tentar barra a vitória do governo, esperando-se os golpes mais sujos da campanha da empresa dos Civita.


No conjunto, o cenário da imprensa brasileira – com a única exceção da Carta Capital, entre as publicações diárias e semanais – é deprimente e decadente. Uma vitória de Dilma – que os apavora, seria ficar mais quatro ou oito anos nessa posição de dirigentes opositores -, trará dilemas difíceis para essas empresas. É possível que uma ou outra busque reciclar-se para adaptar-se a novos tempos, em que inclusive tem que contar com o fim de toda uma geração de políticos estreitamente associados a ela, como FHC, Serra, Jereissatti, etc. Isso, associado a uma intensificação da crise econômica das empresas, deve colocar dilemas cruciais para órgãos que assumiram atitudes suicidas, contra a vontade expressa da maioria do povo brasileiro e pagam preço caro por isso.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A ideologia estadunidense e o enigma puritano

De Michael Liebig, publicado na Resenha Estratégica:

Ao se tentar avaliar a situação atual dos EUA, o enfoque principal geralmente se dá nos fatores econômicos e geopolíticos. Porém, há também uma dimensão ideológica na questão: para um melhor entendimento da "mente estadunidense", um estudo sociológico dos fatores religiosos pode ser de grande valia.
Entre 1934 e 1936, o grande economista e estadista francês Jean Monnet, um dos "pais fundadores" da União Européia, viveu na China como assessor do governo chinês. Ao retornar à França, Monnet dizia que havia entendido melhor a mentalidade chinesa ao chegar do que ao deixar o país.
Recentemente, eu me lembrei das palavras de Monnet em uma conversa com um amigo, um coronel da reserva da Força Aérea Alemã que passou dois anos como adido militar nos EUA e tem acompanhado atentamente a política exterior estadunidense durante décadas. Em suas palavras: "A mentalidade estadunidense continua um mistério para mim."
Entretanto, um mistério é um fenômeno que ainda não foi explicado, e não um que possa ser explicado. Uma pista importante para se entender pelo menos alguns aspectos significativos da "mentalidade esatdunidense" é a sociologia da religião, que proporciona elementos úteis para a identificação das causas fundamentais do comportamento social e suas manifestações políticas. Nos EUA, o fundamentalismo cristão e a direita cristã têm atraído as atenções e, certamente, representam um objeto relevante para estudos sociológicos. Mas para se entender melhor os elementos fundamentais da trama cognitiva e social da sociedade e da política estadunidenses, é preciso ir um pouco mais fundo.
Em seus estudos sobre o tema, Max Weber argumenta que a vida social, política e econômica dos EUA é decisivamente delineada por seitas protestantes - mais precisamente, puritanas. O puritanismo é um movimento religioso constituído por múltiplas seitas que, historicamente, se derivam da oposição radical à Igreja Anglicana. Influenciados pelo calvinismo, os puritanos acusavam a Igreja Anglicana de ser inconsequente em sua separação da Igreja Católica Romana. O puritanismo se originou na Grã-Bretanha, mas floresceu na América do Norte. Entre as seitas puritanas existentes nos EUA, as maiores e mais influentes são os batistas, quakers, metodistas e presbiterianos.
Escrevendo em 1938, o cientista político germano-estadunidense Eric Voegelin, que cunhou a expressão "religião política", afirmou que "os estabelecimentos puritanos nas colônias [da América do Norte]" são "o verdadeiro núcleo religioso do federalismo estadunidense".
Independentemente de suas múltiplas variações, o puritanismo se baseia numa mescla paradoxal de "voluntarismo" e "predestinação". Para seus seguidores, Deus teria "escolhido" alguns, e não outros. Aqueles "escolhidos" possuiriam a "luz interior" que os vincula diretamente com Deus, sem a necessidade de intermediação de uma igreja. A seletividade e a relação pessoal com Deus proporciona a base do individualismo - um importante atributo sociológico da sociedade estadunidense. Os indivíduos "escolhidos" voluntariamente formam a seita - uma congregação dos "mais qualificados religiosamente".
Não obstante, os puritanos têm que provar a si mesmos que são dignos da escolha divina, tanto dentro da comunidade como em suas atividades cotidianas. O puritano está sempre sendo submetido à prova ao longo de sua vida. A percepção de ser religiosamente mais qualificado implica em submeter-se às normas éticas mais rigorosas - o ascetismo. O puritano não busca uma segregação do mundo, mas uma conduta ascética em sua vida diária.
Com isso, o puritano vive sob um estado de permanente tensão psicológica. Não há uma liberação de tensões "controlada", como ocorre na confissão católica na savoir vivre profana. Quando o autocontrole do puritano atinge um limite, a liberação de tensões tende a se tornar excessiva - sendo a violência uma manifestação notável. E, claro, no tocante à ética puritana, a hipocrisia representa a outra face da moeda.
Dentro da seita puritana, não há "controle de cima" como em uma igreja, os membros da seita se controlam entre si. Semelhante "autocontrole" é muito mais rígido e implacável do que qualquer controle externo, o que conduz ao paradoxo seguinte do puritanismo: a promoção do individualismo e da conformidade extremada.
Para o puritano, a vida diária tem que ser rigidamente organizada de acordo com as normas éticas da seita. Weber observa que, para o puritano, "o desperdício de tempo é o primeiro e o pior de todos os pecados", o que inclui a indolência e todas as atividades que não sejam "orientadas para tarefas". Todas as formas de gozo da vida são negadas (e é relevante que William Shakespeare detestasse o puritanismo).

As bases puritanas da vida política e econômica

Para o puritano, o teste supremo para se provar ser digno da escolha de Deus é trabalhar duro e sistematicamente. Fazer negócios de forma honesta e bem-sucedida é a maneira suprema de servir a Deus. Uma falta de disposição para o trabalho duro constitui a evidência de não se ter sido escolhido - ao contrário, o trabalho árduo e o sucesso nos negócios demonstram a eleição divina. Ficar rico como resultado do trabalho árduo é sinal tanto da vontade divina como de Sua simpatia pessoal. O sucesso nos negócios significa uma garantia de salvação transcendental. A riqueza pessoal tem um valor intrínseco quase religioso e estabelece um status superior igualmente quase religioso. Mas a riqueza pessoal do puritano não é algo para o consumo de luxos e frivolidades.
A ética econômica puritana tem delineado de forma fundamental o capitalismo estadunidense. O "espírito econômico" impulsionado pelo puritanismo foi internalizado pela vasta maioria da população estadunidense, independentemente do pertencimento a qualquer seita puritana. Semelhante arcabouço mental baseado na ética puritana atingiu uma condição quase instintiva entre o cidadão estadunidense médio.
Tanto o puritanismo como os seus derivativos seculares têm um grande impacto político e econômico na sociedade estadunidense, e não apenas em termos ideológicos, mas de organização das relações sociais. As seitas e seus derivativos proporcionam o status social e a rede de "conexões" que mantêm o sistema econômico em funcionamento nos EUA.
Da mesma forma, eles representam um importante fator na política "de base" (grassroots), em um país onde ambos os partidos políticos principais têm estruturas organizacionais bastante frouxas e bases programáticas bastante vagas. Voegelin observa que o núcleo de crenças puritanas - como o "entusiasmo escatológico" - representa um significativo fator "normal" na política estadunidense. O rigor ético das seitas se transforma em ativismo político.
Por outro lado, Weber enfatiza que o "espírito econômico" motivado pelo puritanismo não deve ser confundido com a plutocracia, que representaria um desvio da ética puritana estadunidense e tem provocado repetidas emergências de movimentos políticos opostos a ela - como ocorreu no período "Progressista" pré-I Guerra Mundial, a legislação antitruste da década de 1910 e sob o New Deal de Franklin Roosevelt.
As crenças fundamentais puritanas ainda estão configurando a política estadunidense. A noção do "excepcionalismo americano" se mantém como a base ideológica da política exterior dos EUA. O "excepcionalismo" continua sendo o pilar ideológico central da assertividade da "liderança global" estadunidense - dogma que tem sido, inclusive, reforçado pelo presidente Barack Obama.
A ética puritana, com a sua rigorosa dicotomia do "bem" e do "mal" ainda determina o mapa mental do mundo dos EUA. Evidentemente, a política exterior do país se baseia em interesses geopolíticos e econômicos concretos, mas a esta política de interesses se sobrepõem ideologicamente os valores e padrões cognitivos derivados do puritanismo. Por isso, mudar tais padrões para torná-los compatíveis com a realidade cambiante nas relações internacionais será consideravelmente difícil.
Uma nota final de advertência: a aplicação de ferramentas conceituais da sociologia da religião à análise da sociedade e da política estadunidenses não gera explicações de causa única, mas proporciona insights cruciais na mentalidade estadunidense. Se os problemas materiais - econômicos e geopolíticos - dos EUA são enormes, o mesmo ocorre com os ideológicos.

Armando Nogueira

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santanaoxente:




O falecimento de Armando Nogueira empobrece a crônica esportiva brasileira. Melhor dizendo, o jornalismo nacional em geral. Nesses tempos áridos em muitos dos valores fundamentais, Armando Nogueira escreveu páginas primorosas sobre uma das maiores fontes da cultura brasileira, o nosso futebol.
Onde a nossa formação mestiça brasileira se expressa com toda graça, inventividade e possibilidades. Do esporte das multidões, quando as paixões chegam ao ponto de ebulição e as razões beiram ao non sense total, Armando Nogueira extraiu crônicas maravilhosas, verdadeiros poemas.
Ele figura na galeria dos grandes do jornalismo esportivo pátrio, bem ao lado de personagens como Nelson Rodrigues que souberam tirar do esporte e em especial do futebol, literatura da boa e em estado de graça.
Compreendeu, como Nelson Rodrigues, que o futebol-arte, o futebol verdadeiro é inimigo da racionalidade em estado bruto.
Porque ele é catarse de ódios irreconciliáveis, generosidades inimagináveis, síntese de coreografias capazes de provocar inveja mortal no balé Bolshoi, nacionalismos furibundos, movimentos que desafiam a lógica e a própria lei da gravidade.
O verdadeiro futebol engendra em campo estratégias e táticas aplicadas por soldados e generais que fariam Clausewitz e Sun Tzu repensarem a própria arte da guerra.
Mas poucos e muito poucos são capazes de traduzir com clareza e brilhantismo a alma desse magnífico esporte amado por centenas e centenas de milhões de seres humanos em toda a face da terra. Armando Nogueira foi um deles.
Dizem que Armando Nogueira foi um excelente redator do jornalismo nacional. Pode ter sido. Mas ele, um botafoguense de quatro costados, tornou-se imortal foi mesmo na crônica esportiva.
Armando Nogueira foi no estilo de redação e no caráter um virtuose exemplar. Como militante político de esquerda conheci muitos jornalistas tanto a nível nacional quanto regional, e especialmente os alagoanos, vários deles com caráter idêntico ao do Armando.
E o que me chama a atenção nesse gigante profissional é justamente a sua ética e competência sempre associadas à sua cultura e elegância ao abordar os assuntos mais ásperos da realidade brasileira ou os mais espinhosos do esporte, em particular, no futebol, a sua imensa paixão. Ele nos deixou páginas iluminadas de humanismo e generosidade.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O excelente artigo de Luciano Siqueira

O artigo semanal de Luciano Siqueira no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online):

O PAC 2 e a precária crítica da oposição

Não é de agora a comprovação de que em política frequentemente a versão prevalece sobre o fato, sacrificando-se a verdade. No Brasil, isso vem da escola mineira. Mundo afora, muitas comprovações dessa assertiva se sucedem. Joseph Goebbels, ministro de Hitler, mestre no assunto, dizia que a mentira repetida inúmeras vezes termina por se converter em verdade.

Querer um debate pré-eleitoral isento de qualquer contaminação seria ingenuidade, sobretudo no Brasil de hoje às vésperas de um pleito decisivo quanto à continuidade do rumo do desenvolvimento em curso ou de um retrocesso aos padrões experimentados (com resultados nefastos) na chamada era FHC.

Todo fato relevante comportará no mínimo duas versões contraditórias – e nisso nada há de estranho, justamente pelos projetos de nação diametralmente opostos em disputa. Faz parte da democracia, amenizemos.

Entretanto, impressiona o modo como a oposição, beneficiada por reverberação estrondosa de influentes meios de comunicação, vem tratando o anúncio do PAC 2, tentando reduzi-lo a uma simples manobra eleitoreira (sic).

Razões existem, para tanto, do ponto de vista dos oposicionistas que prosseguem cegos defensores da teoria do Estado mínimo, um dos pilares do pensamento neoliberal. A ira contra o PAC deve-se justamente ao fato de que recupera o papel do Estado na promoção do desenvolvimento nacional. Há trinta anos não se falava mais em plano de desenvolvimento, desde o governo Geisel, na ditadura militar. Além disso, a oposição, sem propostas alternativas, concentra-se no combate ao que o governo faz e pretende fazer.

Ora, o PAC dá prioridade a investimentos públicos que a um só tempo incrementam as atividades econômicas e atendem a reivindicações de expressivos segmentos da população, nas áreas da saúde, habitação, energia e infra-estrutura. Isso e o verso da política de privilégios ao setor rentista, mediante superávits primários elevados, metas inflacionárias excessivamente rígidas e juros altos – que a duras penas vêm sendo contidas sob o governo Lula.

O PAC 2 pressupõe investimentos de 2011 a 2014, concentrando recursos em obras de água e esgotamento sanitário, transporte coletivo nas grandes cidades, construções de moradias e também na produção de energia e infra-estrutura de transporte. O que está errado nisso?

Nada, obviamente. A não ser – vejam que argumento frágil – o fato de que as obras previstas no PAC 1 ainda estão atrasadas. Mas que obras não se atrasam no país cuja legislação é um emaranhado de normas complexas e burocratizantes?

Em meio a esse verdadeiro tiroteio midiático a maioria dos brasileiros tem identificado o lado que corresponde aos seus interesses – e apoiará o PAC 2 tanto quanto aprova o PAC 1.